
Se você não conseguir fazer o exercício acima e, com isto, direcionar a pendência, vamos examinar um andar abaixo. As vantagens que a pessoa tem com um comportamento costumam ser os motivos reais que atuam segurando qualquer decisão e impedindo-a realmente de agir num sentido diferente. Então, continuando com o mesmo exemplo dado acima, quais seriam as suas vantagens em alimentar a procrastinação?
Vou sugerir algumas possíveis:
a) Evito contato com meu medo de errar na hora de tomar a decisão. Já pensou se eu decidir errado e depois, quando não puder mais reverter, eu descobrir que este emprego atual era até bom? E se eu não conseguir nada melhor? Assim, evito, na realidade, meu medo de me machucar. Se não sei o que quero fazer, não dou o passo.
Se não dou o passo, não me arrisco a cair e, portanto, não me machuco. Machucar-me como? Por exemplo, com as conseqüências de uma decisão errada. Neste caso, sofrendo indefinidamente por esta perda.
Então vamos às providências:
b) Ou, evito meu medo de não encontrar mais um outro emprego. Já pensou? É muito grave. Existem pessoas que são obrigadas a mudar de profissão e ganhar muito menos, porque ficaram desempregadas.
c) Ou, evito meu medo de descobrir que não sou competente pra escolher um bom emprego. E se eu conseguir encontrar outra empresa e notar que troquei seis por meia dúzia? Ou este emprego ser ainda pior do que o atual?
d) Ou, evito meu medo de descobrir que não sou digno do sucesso profissional. e) Evitando contato com meus medos, protejo também minha auto-imagem de rótulos como medroso, incompetente, fracassado, etc.
Com todos estes receios, você não acha perfeitamente compreensível e inteligente continuar adiando e usando o argumento de que não tem certeza de se quer sair ou não da empresa? O problema destas vantagens é que, com o passar do tempo, vão se enfraquecendo e a sua auto-imagem e autoconfiança podem piorar de qualquer modo, porque você acaba enxergando que está na mesma ou pior e que não faz nada para mudar.
Aí, vale lembrar do ditado: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. E o bicho é sua mente, quando não encontra soluções plausíveis e lhe cobra incessantemente uma atitude. Por isto, antes de chegar a este ponto, avance para o próximo passo.
7º Passo – Desmistificar e elaborar estes motivos e vantagens. Seguindo ainda o mesmo exemplo: motivo: não tenho certeza de se quero ou não continuar neste emprego. Sendo otimista, na vida, 100% de certeza é raro. O que se faz normalmente é atingir um ponto em que, mesmo sem 100% de certeza a gente não quer mais continuar numa determinada opção e banca a briga. A gente simplesmente aceita de pagar o preço de certa atitude. Isto também joga por terra a idéia de que só posso agir se tiver certeza. Eu ajo quando eu quiser. E, vale lembrar que o tempo pode ajudar, quando a gente está se esforçando para encontrar um novo caminho, mas o tempo sozinho não resolve nada.
Bem, então vamos exemplificar que antídotos você pode usar para desmistificar estas vantagens:
- Evito contato com meu medo de errar. Será que existem decisões certas ou erradas ou simplesmente a opção que a gente resolve experimentar? Se você está num emprego e resolve sair, é válido e pronto. Se você prefere fazer outras tentativas diferentes na mesma empresa, também é válido. Além disto, é possível trabalhar-se para aceitar as próprias ações (aquelas que chamamos de erradas a posteriori) de modo mais tranqüilo, mesmo que elas tragam prejuízos. Afinal, é importante lembrar-se depois, que ao tomar a decisão, não era possível considerar dados do futuro. Quanto à conseqüência do medo de errar, que é o medo de se machucar, lembre-se: quem não dá o passo não cai, é verdade, mas também não caminha rumo ao sonho. Além disto, é preciso ser bem rígido para se fixar num trabalho de tal modo a sofrer por causa dele pelo resto da vida. Na prática, não há machucado que não possa sarar, se a gente souber se cuidar.
- Evito meu medo de não encontrar mais um outro emprego. Se você se preparar para isto, qual o problema de ficar algum tempo sem um emprego? Pense bem, não é uma tragédia. Além disto, creio que se você for consciente do seu papel, gostar do que faz e se atualizar e preparar continuamente, pode perfeitamente ter um pouco mais de fé em si mesmo e perceber que só ficará sem um bom trabalho “pra sempre” se estiver bem fechado para as oportunidades, pois o natural é encontrar um outro emprego. Isto é dado estatístico!
- Evito meu medo de descobrir que não sou competente para descobrir um bom emprego. Pensando bem, acho melhor descobrir logo, porque assim dá pra você buscar informações, treinar e se tornar competente. Já pensou ficar fugindo disto a vida toda e só se dar conta aos 80 anos?
- Evito meu medo de descobrir que não sou digno do sucesso profissional. Existe um condicionamento cultural por aí, assustando muita gente. Ela afirma que alguns têm direito ao sucesso e outros não. Cuidado, isto é uma mentira deslavada!!! Ou todos são dignos do sucesso ou ninguém é, porque ninguém é melhor do que o outro. Se observarmos bem, geralmente tem sucesso quem o persegue. É este o seu caso?
- Protejo também minha auto-imagem de rótulos como medroso, incompetente, fracassado, etc. Realmente é importante ter uma boa auto-imagem. Mas, é possível tê-la, às custas de ilusões? Não seria melhor a pessoa ter uma noção clara de onde e como está, do que usar truques para se enganar e ficar pensando que é de um jeito que não confere na prática? O que está debaixo do tapete, um dia vem à tona. Não adianta fugir.
8º Passo – Bem, desmascarados os motivos para procrastinar, resta pouco a inventar, se não agir. Mas, se de qualquer modo, sua resistência a tomar uma atitude ainda continuar, sempre resta a opção de se atirar de uma vez. É como brincar de mergulhar de um local alto. A pessoa pode verificar a água, ter certeza de que está com boa temperatura, que ela não tem pedras e que não há outros perigos à vista. Mesmo assim, ainda poderá sentir ‘um frio’ na barriga, alguma crença irracional que cause medo na hora de pular. Nesta hora, o que ela pode fazer?
Vejo duas possibilidades em que ela continua no comando de si mesma: ou veste a roupa e desiste de pular e não pensa mais no assunto ou respira fundo e dá o salto.
Obs. Se você desejar copiar este artigo para posterior inclusão em qualquer mídia, pede-se que o mantenha na íntegra e adicione os créditos ao final, ou seja, Dra. Elizabeth Zamerul, médica psiquiatra (CRM-SP: 53.851), psicoterapeuta, especialista em Dependência Química e expert em Dependência Emocional.